Comunidades tradicionais falam da necessidade de cuidado com a Mãe Terra

Por Franciele Petry

Utilizadores dos benefícios da terra, das florestas e das águas, povos e comunidades tradicionais participam de debates durante a 14ª Jornada de Agroecologia.

Mesmo que os instrumentos de trabalho para a produção agrícola tenham mudado um pouco durante os últimos anos, o respeito pela natureza por parte dos povos e comunidades tradicionais permanece o mesmo. “A gente tem no sangue a preservação da biodiversidade”, acredita o faxinalense Hamilton José.

Foto: Leandro Taques
Foto: Leandro Taques

Seu companheiro de luta, o faxinalense Amantino Sebastião de Beija, concorda com a percepção. “Muito antes de sabermos o conceito de agroecologia já tínhamos práticas agroecológicas – não usávamos veneno, adubos, nem outros químicos”, explica.

Milho, feijão, hortaliças e plantas medicinais são cultivadas na comunidade do faxinalense, localizada em Mandirititiba, região metropolitana de Curitiba. Em razão do relevo acidentado do local, em alguns pontos da comunidade agricultores plantam com a ajuda de instrumentos movidos a tração animal, semelhante a seus antepassados.

Essa é a primeira vez que povos e comunidades tradicionais participam e contribuem na organização da Jornada de Agroecologia, evento anual que está em sua 14ª edição nesses dias 22 e 25 de julho, em Irati/PR.

Integrante da Comunidade Quilombola Invernada Paiol de Telha, Divonzir Manoel dos Santos também indica em sua comunidade a existência da prática tradicional de produção de alimentos, que respeita a natureza. “A participação do negro na Jornada de Agroecologia é um marco”, indica. “Conseguimos mobilizar e integrar cada vez mais esse debate”.

Romildo Lourenço Padilha, da Aldeia Indígena Ivaí, do município Manoel Ribas/PR, está participando pela primeira vez do evento. Ele confessa não participar de grandes debates em relação ao modo de produção agroecológico, mas indica que, de alguma forma, já mantém a prática. “Para nossa comunidade a relação com a natureza é muito importante. Cuidamos dela”, afirma.

Foto: Franciele Petry
Foto: Franciele Petry

A relação com a Mãe-Terra

“Como vamos viver sem nossos conhecimentos, se tudo está devastado?”, questiona Jovina Rehn Ga, indígena da etnia Kaingang. Moradora da aldeia urbana Kakané Pora, em Curitiba, Jovina explica a ligação com a Mãe Terra.

As plantas, as matas, a terra e a água são profundamente respeitadas pelos povos indígenas no país, que compreendem a direta relação de interdependência entre o ser humano e a natureza. “Eu fico muito triste quando eu vejo transgenia, o pinus e a soja”, conta.

Jovina destaca a grande participação dos povos indígenas na 14ª Jornada de Agroecologia. Segundo ela, essa é primeira vez que um grupo com dezenas de pessoas de diversas aldeias se mobiliza para o evento – em outras edições, o número era bastante reduzido.

Ao mesmo tempo, ela indica a necessidade de ampliar a efetiva participação de indígenas, povos e comunidades tradicionais nas próximas Jornadas. Segundo Jovina, é preciso aumentar o destaque para a cultura e para a percepção daqueles que são os primeiros habitantes do país, que muitas vezes fica prejudicada em razão da prioridade dada a outras falas.

“Somos índios, somos da natureza. Amamos nossa terra e nossa cultura”, declara.