“O agronegócio tem a indústria cultural como aliada”, afirma militante

A militante do Coletivo de Cultura do MST, Ana Chã, participou da conferência da manhã desta sexta (24), junto ao Roberto Baggio

Por Camila Rodrigues da Silva

“Há estudiosos que avaliam que hoje a lógica do capital é cultural. Por isso, precisamos entender essa lógica para combatê-la”. Assim começa a apresentação da militante Ana Chã, do Coletivo Nacional de Cultura do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) no terceiro dia de atividades da 15ª Jornada de Agroecologia, nesta sexta (29).

“A base da construção do agronegócio vem da Revolução Verde, no final dos anos 70. E foi nessa época que esse setor começou a construir um novo imaginário simbólico e fez grandes investimentos intencionalmente em duplas sertanejas que começaram a produzir música sob a lógica do mercado e da publicidade”, explicou.

Enquanto era feito o trabalho de massificar essas novas duplas, a música caipira do campo era relegada ao passado, como algo que não deveria mais fazer parte da vida do novo morador do campo.

Ana deu exemplos de como o agronegócio também se apropria de recursos públicos para investir em “commodities de cultura”. “Nos últimos dez anos, as principais empresas do agronegócio conseguiram fazer projetos culturais com dinheiro da Lei Rouanet no valor de R$ 130 milhões”.

Ela citou ainda projetos como o Circuito Syngenta de Viola Instrumental e o Prêmio Syngenta de Viola como formas de submeter a produção cultural no campo ao seu próprio crivo. “Também era uma forma de melhorar a imagem da empresa junto à população”.

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Ana Chã na Conferência de “Agroecologia e Cultura de Resistência” / Foto: Leandro Taques

Para Ana, que junto ao coletivo estuda a relação entre indústria cultural e agronegócio, a cultura dos movimentos populares tem que ser de enfrentamento e de resistência. “O agronegócio tenta atuar na cultura desenraizando as pessoas, fazendo com que elas se sintam cada vez menos pertencente ao campo”, explica.

Por isso, Ana mostra que é preciso que haja seriedade neste combate. “A gente se mobiliza pela terra, pela reforma agrária, mas não se mobiliza no campo da cultura. As festas de colheita e as festas juninas estão sendo transformadas em festas transgênicas, e a gente não vê isso como campo de batalha”, provoca.

 “Só votar não muda”

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Conferência sobre o “Processo de construção do Projeto Popular e Soberano na Agricultura para a Sociedade Brasileira” / Foto: Leandro Taques

Antes de Ana, o dirigente do MST do Paraná, Roberto Baggio, enfatizou a necessidade de seguir construindo a Frente Brasil Popular e de buscar a unidade entre os agricultores e trabalhadores rurais para a construção do projeto popular e soberano na agricultura.

“Precisamos construir a Frente Brasil Popular em todas as regiões, em todas as cidades. O objetivo não é disputar eleição, mas construir uma ferramenta política de unidade entre os trabalhadores, para destruir esse governo e dar suporte à Dilma quando ela voltar”, afirmou.

Como exemplo do potencial político da classe rural, ele citou os números do Estado do Paraná, que, segundo ele, tem 250 mil famílias de pequenos agricultores e 50 mil de sem-terra acampado. “Se a gente conseguir que essas 300 mil famílias se orientem ao redor de nosso projeto, teremos o maior exército a favor da agroecologia”, contabiliza.

Como encaminhamento da Jornada, apontou a necessidade de organizar um programa de formação com os militantes, com um curso de formação política, um de formação de militantes e um de formação de formadores.

“Precisamos compreender o projeto deles [da direita] e azeitar o nosso”, sintetizou.

Além disso, tratou da articulação de um calendário unitário de lutas de massa. “Amanhã vai se apresentar um calendário detalhado para todo o mês de agosto”, antecipou.

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