25 anos da Educação do Campo e do Pronera: reconhecimentos e desafios

Por Articulação Paranaense Por uma Educação do Campo, das Águas e das Florestas

Foto: Lukas Strada

Durante a 20ª Jornada de Agroecologia, educadoras(es), professores(as) universitários, militantes dos movimentos sociais, organizações populares e sindicais se encontraram, neste dia 24 de novembro, para dar seguimento ao calendário de 25 anos da Educação do Campo e do Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária (Pronera). As ações vinculadas à data são organizadas pela Articulação Paranaense Por uma Educação do Campo, para marcar a trajetória de muita luta, formação e organização dos povos do campo, das águas e das florestas pelo direito à Educação.

Uma trajetória de lutas pois, como destaca Isabel Diniz, da Comissão Pastoral da Terra, “no final da década de 1990 tínhamos uma situação muito precária no campo pelo acesso à educação básica de qualidade. Não havia nem professores formados e as escolas eram multisseriadas”. Alguns desses desafios continuam atuais, como destaca a professora da rede pública de ensino, Fabia Rezende. “Estamos vendo agora o retorno dessa proposta multi-anos, que é o rebaixamento escancarado e o início do fim de muitas escolas do campo.

Mas Isabel também reforça que esses 25 anos de educação no campo são também  uma trajetória de conquistas, pois como ela destaca, “as formações foram muito importantes e geraram centenas de sementes que hoje florescem e frutificam”. 

São fruto dessa luta as iniciativas de alfabetização e o Ensino de Jovens e Adultos (EJA) no Campo, o programa Terra Solidária que proporcionou formação para famílias da agricultura familiar, as Escolas comunitárias de Agricultores, o projeto Vida na Roça, a criação de universidades em cidades do interior, as primeiras turmas do Pronera, as licenciaturas, as normativas, pareceres, escolas e suas nomenclaturas, escolas itinerantes, os projetos políticos pedagógicos.

Memórias de luta também carregadas de indignação e sentimentos foram trazidas por agricultoras e agricultores, como de Cristiane Katzer ao mencionar as grandes dificuldades enfrentadas nas escolas do campo no período da primeira infância. “Estas lembranças, para nós, forjam nossa consciência e reforçam nossa ideologia para que não tenhamos essa repetição no campo. Os fechamentos de escolas são de maneira arbitrária, pois fazem parte do projeto estratégico para o avanço do agronegócio” enfatiza Cristiane, diretora da Associação de Estudos Orientação e Assistência Rural (Assessoar).

Para Jones Fernando, do Setor de Educação do MST e da Secretaria da Articulação Paranaense, temos grandes desafios atuais que dizem sobre não perder o acumulado de todas as iniciativas, que sempre foram coletivas, de enfrentamento e de construção do projeto da educação pública. Nesse sentido, ele convoca a “fortalecer a nossa unidade coletiva e potencializar a Articulação Paranaense [por uma Educação do Campo]. A abertura de um período que abre possibilidades faz urgente termos um bom posicionamento para avançar em nossas propostas.”

O seminário — que se soma a sequência de atividades e mobilizações que este ano passaram por Laranjeiras do Sul e Cascavel — torna-se um momento de trabalho e elaboração para as lutas atuais contra o fechamento de turmas, turnos e escolas, bem como do reconhecimento político das Licenciaturas em Educação do Campo. “Tivemos excelentes atividades que qualificaram nossa mensagem e nossa luta da Campanha Escola é Vida na Comunidade, bem como do reconhecimento há 15 anos das Licenciaturas em Educação do Campo. Precisamos que o Governo do Paraná reconheça estes mais 400 egressos que trabalham de maneira precária em mais de 150 municípios. É um direito nosso”, enfatiza Maria Isabel Farias, professora da Universidade Federal do Paraná (UFPR) Litoral.

Ao fim, a articulação elaborou as pautas para as próximas lutas, como a participação da Conferência Nacional da Educação (Conae), bem como socializou uma nota de repúdio e convocação de enfrentamento ao programa Agrinho, que tem se ampliado nas escolas paranaenses de maneira indevida. “O Agrinho, para além de inserir mensagens subliminares de resolução individuais da vida e dos símbolos do agronegócio, como a FAEP [Federação da Agricultura do Estado do Paraná] e o SENAR [Serviço Nacional de Aprendizagem Rural], é um programa que estimula a lógica da premiação, obrigando de maneira autoritária as escolas, diretoras e diretores e professores a utilizar materiais e abordar o programa”, denunciou João Dremiski, Professor do Instituto Federal do Paraná (IFPR).

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