Ciranda Gralha Azul acolhe crianças Sem Terrinha durante a Jornada de Agroecologia

Espaço garante participação de mães e pais nas atividades da Jornada ao mesmo tempo em que insere pedagogicamente crianças dos movimentos sociais

Por Isabela Cunha

Um espaço como a Jornada de Agroecologia demanda, para a sua realização, uma série de mulheres e homens que dedicam tempo e esforço em diferentes frentes de trabalho ao longo dos cinco dias de evento. Palco, feira, debates, palestras, apresentações artísticas, alimentação, infraestrutura, tudo é realizado por militantes dos movimentos sociais que viajam de vários cantos do estado para este encontro em torno da agroecologia.   

O espaço da Ciranda é fundamental para viabilizar esse trabalho. Reivindicado pela primeira vez em 1987, o espaço tem como origem a articulação entre os setores de educação e gênero do MST, que buscavam uma solução para garantir a participação das mulheres nas atividades do movimento. “A luta pela ciranda parte do desejo das mulheres de conseguirem participar dos espaços de luta, porque na sociedade capitalista e patriarcal em que a gente vive o cuidado da criança recai muito sobre a mulher, que acaba deixando de participar, muitas vezes, porque está cuidando das crianças para os companheiros poderem participar”, explica Vanessa de Souza, da Escola Nacional Florestan Fernandes, em Guararema.

Foto: Juliana Barbosa

Com o tempo, além de cuidar das crianças para garantir a participação das mulheres, o trabalho da Ciranda foi se fortalecendo como espaço de natureza pedagógica. “A proposta é que além de cuidar, a ciranda seja um espaço de pertença, um espaço pedagógico em que as crianças sem-terra também possam vivenciar ao seu modo um pouco do que são as lutas e as atividades políticas do Movimento”, complementa Vanessa.

Por isso, presente em todos os eventos e encontros do MST, a Ciranda sempre traz programação específica que tenha relação com a atividade política em que a ciranda está inserida. No caso da 20º Jornada, além de receberem algumas atrações da programação do evento, a Ciranda trabalha com as crianças o tema específico da agroecologia, natureza e alimentação saudável 

Ciranda Gralha Azul

“Aqui, no cotidiano da Ciranda, nós temos uma etapa de planejamento de atividades, acolhida, brincadeiras mais livres, e algumas atividades específicas. Agora há pouco, por exemplo, as crianças ouviram a contação de história sobre a Gralha Azul, e a partir dessa contação estão fazendo uma atividade de pintura com as cores da Gralha”, comenta Claudia Silva, estudante de pedagogia acampada em Campos Gerais que atua na Ciranda. 

Foto: Juliana Barbosa 

A Gralha Azul é um símbolo da jornada de agroecologia, por sua relação com o plantio das araucárias. Conta a lenda que o pássaro teria recebido a tarefa divina de espalhar essa semente. À certa altura, a Ciranda da Jornada ganhou o nome de Gralha Azul, e hoje todas as cirandas do estado do Paraná tem esse mesmo nome. “Quando estamos falando dos Sem-Terrinha, estamos falando das nossas crianças, quando elas se inserem nas atividades elas assumem a identidade de sem-terra, e esse modo de ser sem-terrinha também está expresso n contexto da Ciranda”, explica Vanessa. 

Vindas do acampamento Reduto do Caraguatá, em Paulo Freitas, as sem-terrinha Kimberly e Mariana contam que, para elas, a ciranda é um espaço de diversão “Hoje a gente brincou de lenço atrás, de pega-pega, vôlei”, comentam. Quando a professora pergunta o que elas fizeram além das brincadeiras, Kimberly responde que aprendeu a cantar o hino dos sem-terrinha. “Quem são vocês? Sem-terrinha outra vez! O que é que traz? Traz vitória e nada mais! Essa onda pega? Essa onda já pegou! Pra anunciar que o sem-terrinha já chegou, já chegou, já chegou”, canta animada. 

Foto: Juliana Barbosa

Para Antônio Kanova e Cassiana Machado, pais do Bernando e trabalhadores da Escola Milton Santos de Agroecologia de Maringá,  a Ciranda é uma oportunidade que faz diferença na vida da família, “Sem a Ciranda, nem nós, nem o Bernardo estaríamos na Jornada”, comentam. “A ciranda faz muita diferença na vida dele, é uma oportunidade de conhecer crianças de outros lugares, de outras culturas. Uma troca que ele não encontraria em outros espaços. Esse é um diferencial da ciranda, além de ser um lugar  seguro, construído por companheiras e companheiros que conhecem e acompanham o crescimento do Ber. Para nós é uma tranquilidade e faz toda a diferença”, concluem. 

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