Campo e cidade se unem em marcha na abertura da 21ª Jornada de Agroecologia, em Curitiba

Jornada ganha as ruas com uma grande mobilização popular em defesa da produção de alimentos saudáveis e sustentáveis. “Nós lutamos por território e cuidados com a mãe terra”, diz indígena Guarani presente na marcha. 

Foto: Leandro Taques

Em um ato de força e união, movimentos sociais marcharam nesta quarta-feira (4) da Praça Tiradentes, no centro de Curitiba, até o Palácio Iguaçu para dar início à 21ª Jornada de Agroecologia. Com o tema “Terra pra produzir alimentos saudáveis! Casa pra morar e ter dignidade! Solidariedade aos povos em luta!”, a mobilização reforçou a importância da agroecologia para a construção de um futuro mais justo e sustentável, com alimentos saudáveis e produção responsável. 

Um café da manhã comunitário antecedeu a marcha, simbolizando a importância da alimentação como ato político e cultural. Roberto Baggio, dirigente nacional do MST pelo Paraná, falou da urgência em garantir a conquista da terra para avançar na agroecologia. “Estamos aqui na jornada para se conectar, a vida do campo com a vida da cidade, ou seja, pensar a cidade sustentável com educação, cultura, trabalho, com o cuidado do meio ambiente. Seguir o movimento dos trabalhadores, da população em geral num sentido de pensar no futuro e cuidar dela,” garantiu Roberto Baggio, que atua na direção geral do MST pelo Paraná.  

 A agroecologia toma as ruas do centro de Curitiba e marca o início da 21ª Jornada. Créditos: Lia Bianchi  

A marcha foi marcada pela diversidade de seus participantes. Marcharam juntos camponeses/as moradoras de acampamentos e assentamentos do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST), moradoras/es de comunidades urbanas integrantes da articulação Despejo Zero, povos indígenas, coletivos, sindicatos, partidos e movimentos sociais urbanos. A presença dos povos indígenas reforçou a importância da luta pela terra e pela autodeterminação dos povos originários.

>> Confira aqui a programação completa

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Povos indígenas marcam presença na marcha. Créditos Imagem: Lia Bianchini  

Ao lado de outras pessoas indígenas das etnias kaingang e guarani, Elizandra Fysanh Freitas ajudava a carregar uma bandeira com a frase “Brasil é Terra Indígena”. Ela é integrante da maior Terra Indígena do Paraná, Rio das Cobras, localizada em Nova Laranjeiras, região Centro do Paraná. “Nossa luta continua sendo pela demarcação de Terra Indígenas. Uma das nossas pautas dentro da Agroecologia é essa demonstração para os governos do que precisamos fazer, porque apesar de estarmos no século 21 ainda temos que lutar pelo nosso próprio território.” 

Comunidades indígenas de diferentes regiões do estado também estão na Feira da Jornada e com oficinas e seminários. “Nos unimos para mostrar nossa força enquanto povo indígena. A jornada de Agroecologia é a união entre esses povos e movimentos sociais, porque a nossa luta não é diferente, a pauta é a questão da terra. Enquanto os movimentos sociais e camponeses lutam por uma produção de agricultura orgânica, nós lutamos por território e cuidados com a mãe terra”, completa.

Intervenção em apoio ao povo palestino. Foto: Lia Biachini

Foto: Leandro Taques

A marcha trouxe também o apoio ao povo palestino, que enfrenta um genocídio praticado por Israel ao logo das últimas décadas, e com mais força neste último ano. Um dos blocos também denunciou a tentativa do governo do Paraná de privatizar a educação pública, com o programa “Parceiros da Escola”. 



O ato de partilhar, café da manhã comunitário marca início da jornada e simboliza união. Créditos Imagem: Beatriz Deschamps  

Após a caminhada, parte dos manifestantes se reuniram em frente ao Palácio do Iguaçu enquanto aguardavam a Assembleia. Foi realizada a distribuição de marmitas da associação comunitária Marmitas da Terra, reafirmando o ato de resistência e ressaltando a importância da agricultura familiar na construção de um sistema alimentar mais justo e democrático. 

Distribuição de marmitas reforça a ideia da alimentação como um ato político. Créditos: Lia Bianchini 

Urgência na garantia do direito à terra e moradia  

As pautas apresentadas ao longo da marcha foram os temas da audiência realizada no auditório do Palácio das Araucárias, no final da manhã. As reivindicações foram apresentadas por acampamentos e assentamentos do MST de todo o estado, e também por integrantes do Movimento Popular Por Moradia (MPM) e da Frente de Frente de Organização dos Trabalhadores (FORT) apresentaram a pauta de reivindicações das comunidades de ocupação urbanas de Curitiba, Piraquara, Araucária, Campo Largo, São José dos Pinhais, Londrina, e comunidades indígenas, Campo Largo, Piraquara e São Luiz do Purunã. 

Fotos: Beatriz Deschamps

Somente no Paraná, cerca de 7 mil famílias estão acampadas em mais de 80 comunidades rurais organizadas pelo MST. Algumas estão formadas há 20, até 30 anos, e a maioria delas está estruturada com espaços comunitários e com produção para o autossustento das famílias para atendimento de programas institucionais como o da Alimentação Escolar (PNAE) e da Aquisição de Alimentos (PAA).  

José Damasceno, integrante da direção nacional do MST pelo Paraná, apresentou a urgência da destinação de mais recursos públicos para a efetivação da reforma agrária. “Não dá pra aceitar que o Estado dá isenção de impostos pra quem vende veneno. E nós sem orçamento?”.  

Para o dirigente, o governo federal está em dívida com a agricultura familiar e camponesa: “Nós estamos fechando 2024 com muito pouca conquista, é insignificante, Precisamos dar esse passo. Vamos ser realistas. O governo Lula está em dívida com nós”. O MST apresentou uma demanda emergencial do assentamento imediato de 65 mil famílias, no início da gestão de Lula na presidência, e até agora houve pouco avanço.

Fotos: Beatriz Deschamps

Nilton Bezerra Guedes, superintendente do Incra, acompanhado de outros servidores do Instituto, reforça que mais de 6 mil famílias acampadas foram cadastradas neste ano no estado. Foram abertos processos em torno de 40 mil hectares, o que daria pra assentar cerca de 4 mil famílias. Além disso, tem os processos judiciais que estão avançando. “A nossa função é preparar os processos e colocar em Brasília, e neste sentido, se nós temos compromisso queremos dobrar esse compromisso”.  

A ouvidora agrária do Incra-PR, Josiane Grossklaus, frisou a urgência da recomposição do quadro de servidores e a ampliação de orçamento do órgão. “É impossível dar conta da demanda com tão poucos funcionários. Além de estar na pauta, a reforma agrária precisa estar no orçamento”.  

 
Também estiveram presentes o desembargador Fernando Prazeres, presidente da Comissão de Soluções Fundiárias do Tribunal de Justiça; Roland Rutyna, superintendente de Diálogo e Interação Social (Sudis); Deputados estaduais Luciana Rafagnin e Professor Lemos (PT); Darci Frigo, integrante da coordenação da Terra de Direitos e da Jornada de Agroecologia.  

Janine Mathias se apresentou na abertura oficial da Jornada. Foto: Lia Biachini


A programação da Jornada seguiu no período da tarde no Centro Politécnico da 

UFPR, no bairro Jardim das Américas. A abertura oficial levou ao palco principal da Jornada a artista paranaense Janine Mathias, que trouxe samba partido alto, samba enredo, gafieira, samba de breque. “É uma honra para mim estar aqui, eu que sou uma mulher criada  nas periferias, que sei o valor de quem planta o amanhã”. A Jornada segue até domingo (8), com apresentações culturais, Feira da Biodiversidade e Culinária da Terra. 

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