Projeto Bem Viver inaugura viveiro florestal e horto medicinal para o fomento da agroecologia, no Paraná

Estruturas foram inauguradas neste sábado (7), no assentamento Contestado, na Lapa. Capacidade de produção será de mais de 100 mil mudas ao ano

Inauguração do viveiro e do horto ocorreu neste sábado (7). Foto: Wellington Lenon.

Na semana do Dia Mundial do Meio Ambiente, o Projeto Bem Viver inaugurou um viveiro florestal e um horto medicinal no assentamento Contestado, na Lapa (PR), na Região Metropolitana de Curitiba. A ação tem como objetivo fortalecer as práticas de agroecologia no Paraná, com avanço no reflorestamento massivo de árvores nativas. 

O viveiro terá capacidade para produção de 100 mil mudas por ano, com foco em espécies da floresta ombrófila mista – a floresta de araucária. Já o horto de plantas medicinais, também conhecidas como bioativas, prevê a produção de 5 mil mudas por ano.

A inauguração ocorreu neste sábado, 7 de junho, e marcou o encerramento da 3ª Jornada da Natureza: Semeando vida para enfrentar a crise ambiental, realizada em todo o Paraná desde o dia 2. As centenas de pessoas presentes no encontro participaram do mutirão de plantio de mil pinhões – serão as primeiras mudas de araucária do viveiro.  

Esta ação integra o projeto Bem Viver, que desenvolve capacitações e implantação de práticas agroecológicas e agroflorestais. O projeto é resultado da parceria entre o Instituto Contestado de Agroecologia (ICA) e a Itaipu Binacional, por meio do Programa Itaipu Mais que Energia, alinhado ao governo federal.

Um mutirão de semeadura de mil pinhões marcou a atividade de inauguração dos viveiros. Fotos: Juliana Barbosa.

Além da produção das mudas, os dois espaços também serão voltados a formações práticas para o cultivo de matrizes, manejo e propagação das espécies e produção de matéria-prima para fitoterápicos. Mais um viveiro está em construção em Maringá, e dois hortos medicinais, um em Centenário do Sul e outro em Imbaú, a serem inaugurados nos próximos meses. A capacidade total de produção anual supera 300 mil mudas. 

“Essa ação fortalece e beneficia toda a sociedade, porque ao plantar mais árvores, a gente vai estar plantando água, plantando alimentos saudáveis. O benefício não é só pra quem está no campo, é também pra quem está na cidade, com ar mais puro, água limpa, alimento de qualidade e diversificados”, explica Priscila Monnerat, coordenadora do Projeto. 

Adriano Lima, representante da Itaipu Binacional, participou da inauguração e frisou a relação da missão da empresa com a geração de energia elétrica de qualidade e responsabilidade social e ambiental, relacionada ao fomento à agroecologia. “Para garantir essa energia elétrica de qualidade, ela precisa também garantir a chamada segurança hídrica […]. Também isso é garantia de energia, garantia ambiental e nesse caso social, e ainda econômica com as famílias”.

A inauguração contou com a presença de Adriano Lima, representante da Itaipu, do Superintendente do Incra-PR, Nilton Guedes, e da superintendente da Conab-PR, Leila Klenk. Foto: Juliana Barbosa.

O assentamento Contestado já é uma referência na prática da Saúde Popular, com um espaço para atendimento com terapias alternativas e um horto medicinal de forma integrada à Unidade Básica de Saúde. Maria Natividade, moradora do assentamento e integrante do coletivo de Saúde Popular da comunidade, vê no horto medicinal uma oportunidade de aprimorar e expandir a prática já realizada no Contestado. “Vai ser um fortalecimento do que já fazemos em pequena escala, com multiplicação de mudas. Daqui também deve sair geração de renda […]. Vai fortalecer tudo aquilo que nós sonhamos”, garante a camponesa, que é produtora agroecológica.  

Agroecologia para enfrentar a crise ambiental 

O projeto Bem Viver atua especialmente em comunidades da Reforma Agrária, além da Terra Indígena Rio das Cobras, com mais de 700 famílias de todas as regiões do Paraná. O objetivo central é a capacitação de camponeses/as para práticas agroecológicas, a implantação de Sistemas Agroflorestais e o reflorestamento de áreas degradadas. As ações vão ao encontro dos esforços de enfrentar a crise ambiental, uma realidade que afeta a vida humana, a fauna e a flora em todo o planeta. 

No campo e na cidade são cada vez mais frequentes as enchentes, secas, escassez ou contaminação da água, poluição do ar. A produção de alimentos a partir da agroecologia tem se comprovado como uma resposta efetiva para este cenário. 

Entre os efeitos práticos, reduz o desmatamento e avança no plantio de mais árvores. Apesar de estar entre os estados com menor índice de desmatamento no Brasil, entre 2023 e 2024, o Paraná derrubou 226 hectares de floresta, segundo relatório técnico produzido pela Fundação SOS Mata Atlântica e o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). 

Já quando o assunto é o uso de agrotóxicos, o Paraná estava entre os três estados que mais consomem veneno no país. Em 2019, eram 95.286 toneladas de agrotóxicos, um aumento de 2,5% em relação ao ano anterior, sendo o estado com mais notificações de intoxicações por agrotóxicos do Brasil. De 2007 a 2020, foram 11.841 casos de intoxicações notificadas e 411 óbitos: foram 4.353 intoxicações ocupacionais com 25 óbitos e 4.325 intoxicações por tentativa de suicídio que resultaram em 361 mortes. Os dados são do Observatório do Uso de Agrotóxicos e Consequência para a Saúde Humana e Ambiental no Paraná.

Os assentamentos da Reforma Agrária no Paraná têm bons resultados na preservação ambiental. Segundo dados do Instituto Água e Terra do Paraná (IAT) sobre o Cadastro Ambiental Rural (CAR), a média de cobertura vegetal nativa nos 333 assentamentos rurais do estado foi de 29,51% em 2021. Essa média está acima do que indica o Código Florestal, que é de 20% de reserva legal. Esses números da Reforma Agrária contribuem para proteger e restaurar o que resta da Mata Atlântica, uma das mais ricas em diversidade de espécies e ameaçadas do planeta. Hoje, restam apenas 12,4% da floresta que existia originalmente.

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