O cenário da Educação no Campo no Brasil enfrenta momentos de instabilidade e desafios estruturais, que foram debatidos durante o Seminário Educação do Campo, das Águas e das Florestas da Região Sul
Foto: Lia Bianchini
Por Karina Ernsen
O cenário da Educação no Campo no Brasil enfrenta momentos de instabilidade e desafios estruturais, que foram debatidos durante o Seminário Educação do Campo, das Águas e das Florestas da Região Sul, na 21ªJornada da Agroecologia, que ocorre no Centro Politécnico da UFPR (Universidade Federal do Paraná), até o dia 08 de dezembro.
De acordo com Edson Marcos de Anhaia, da UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina), tanto os movimentos sociais, como sindicatos e universidades precisam se articular para resistir ao desmonte de conquistas históricas e buscar novas estratégias frente à precarização do trabalho docente, privatizações e interferências externas no modelo educacional.
A construção da Educação do Campo
A articulação da educação do campo no Paraná tem raízes profundas. Desde o início dos anos 2000, iniciativas como o primeiro encontro realizado em Faxinal do Céu, em 2003, reuniram 700 pessoas de diferentes organizações. O Movimento Nacional de Educação do Campo (ENERA) e o Fórum Nacional de Educação do Campo (FONEC) surgiram como plataformas importantes para pensar e implementar políticas públicas inclusivas e participativas.
De 2004 a 2015, houve um período de intensa mobilização, marcado pela parceria entre movimentos sociais, fóruns e órgãos governamentais, como a Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização, Diversidade e Inclusão (SECADI). No entanto, o cenário mudou drasticamente nos últimos anos, com a extinção de comissões, cortes de recursos e a reconfiguração de políticas públicas.
Foto: Lia Bianchini
Os desafios atuais
A educação do campo enfrenta múltiplos ataques. No Paraná, por exemplo, há uma lista de 10 escolas rurais ameaçadas de fechamento, em um universo de 200 instituições. Para a Professora da UFPR, Maria Isabel Farias, a precarização do trabalho docente é visível, com a saída forçada de técnicos pedagógicos experientes e uma alarmante falta de formação adequada para os professores. “Além disso, a implementação da Base Nacional Comum Curricular (BNCC) e a reforma do ensino médio são criticadas por movimentos sociais como medidas que promovem o controle e a padronização, em vez de atender às especificidades do campo”.
Foto: Lia Bianchini
Outro problema central é a privatização das escolas. O professor da UFSC, Willian Simões, ressaltou os Projetos como “Parceiros da Escola” e a crescente influência de empresas como o Instituto Lemann, Fundação Roberto Marinho e Boticário, como ameaças. Essas instituições ameaçam a autonomia das escolas do campo. Além disso, a “plataformização” da educação no Paraná, com currículos e planejamentos altamente controlados, têm limitado a atuação dos professores.
Propostas, Mobilização e Representação
Entre as soluções debatidas, está a recomposição do FONEC, com a eleição de representantes regionais e a construção de uma agenda permanente de trabalho. A organização de fóruns estaduais, o fortalecimento de parcerias com universidades públicas e a luta por políticas públicas específicas são estratégias apontadas como fundamentais para enfrentar os desafios.
A articulação entre os movimentos sociais e a academia também foi destacada como um eixo essencial para a resistência. A UFPR e a UTFPR (Universidade Tecnológica Federal do Paraná) têm desempenhado papéis importantes ao apoiar iniciativas como a pedagogia da terra e a educação voltada aos povos indígenas, quilombolas e ribeirinhos.
O movimento pela educação no campo no Sul do Brasil busca se reerguer diante de um cenário adverso. “Estamos em um momento de luta de classes, mas precisamos superar a retórica e avançar na construção de políticas públicas concretas”, afirma João Carlos de Campos, do MOVECAMPO (Laboratório de Educação do Campo e Indígena e do Grupo de Pesquisa Campo, Movimentos Sociais e Educação do Campo).
As articulações regionais, como as lideradas pelo MST e institutos locais, reforçam que a luta pela educação do campo não é apenas por espaços escolares, mas pela preservação de identidades, culturas e direitos. Enquanto isso, mães, professores e lideranças continuam a resistir, apontando caminhos para um futuro onde a educação seja, de fato, um direito garantido para todos.
Foto: Lia Bianchini
O evento segue até domingo (8), no Centro Politécnico da UFPR. Este ano a Jornada de Agroecologia conta com o patrocínio da CAIXA, Itaipu Binacional, Correios, Fundação Banco do Brasil e Governo Federal, e apoio da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Paraná (Seab), Ministério da Agricultura e Pecuária (MAPA) e do Desenvolvimento Social (MDA), Cooperativa de Crédito Cresol e Cooperativa Central da Reforma Agrária (CCA).