Agroecologia

O Cultivo de novas relações humanas como fruto da vida nos assentamentos

A 14ª Jornada de Agroecologia do Paraná colocou em evidência não apenas um modelo alternativo de produção, mas o fortalecimento da cultura e da relação entre arte e política no campo Por Camilla Hoshino A grande plenária foi o cartão de visitas da 14ª Jornada de Agroecologia do Paraná. A alguns passos de distância, mais de 40 barraquinhas de produtos orgânicos e agroecológicos atraem a atenção da multidão dispersa durante os intervalos da programação. Atrás da feira, o cheiro de carne temperada e mandioca cozida nos leva até a cozinha comunitária, divida em brigadas com cerca de cinco pessoas cada, para a produção de três refeições diárias para os participantes. Tudo foi pensando e construído com cuidado para garantir o funcionamento de um evento de quatro dias com mais de 4 mil pessoas, vindas de diferentes regiões do estado e do país. Muitas cores e enfeites compuseram o palco principal: panos de chita, cabaças, peneiras artesanais, frutas e sementes crioulas. É neste espaço que aconteceram as mesas temáticas, os atos políticos e as apresentações artísticas. Mais do que isso, ali se misturou arte e política, sem “foices, martelos, punhos cerrados ou sangue escorrendo”, brincou Sylviane Guilherme, dançarina e integrante do Setor de Cultura do MST/PR. Ela explica que os objetos do cotidiano dos agricultores e agricultoras, para além de sua função utilitária no dia a dia, se tornam arte quando ganham uma expressão livre naquele palco. “A ornamentação não é apenas decorativa, ela diz o que é a agroecologia, o trabalho e a vida no campo”, reforça. Protagonismo As características do modo de vida e da cultura nos assentamentos rurais puderam ser encontradas em todos os espaços da Jornada. Seja na marcha de abertura, nas palestras e oficinas, nas cirandas voltadas para as crianças, na cozinha ou nas noites regadas […]

Jornada de agroecologia afirma urgência de um novo projeto de agricultura

Por Iris Pacheco “Você sabia que gente também é semente? E gente sendo semente precisa ser cultivada”. Foi com o tom de cultivar os valores do cuidado, da singeleza e da rebeldia que a 14° Jornada de Agroecologia no Paraná concluiu, neste sábado (25), um ciclo para iniciar outros tantos no coração de homens, mulheres e crianças ali presentes. A jornada, que começou na quarta-feira (22), teve quatro dias de intensos debates, socializações de conhecimentos e cultivo dos saberes. Toda a beleza desses dias se reflete no ato de encerramento com a convocação do povo para assumir o compromisso de construir novas relações entre os homens e a Mãe Terra, de serem guardiães e guardiãs das sementes e da biodiversidade para a humanidade. “Temos que manter a conscientização, a rebeldia, a desobediência e a conspiração para enfrentar o agronegócio. Uma delas é sermos todo dia guardiães das sementes e compartilhá-las. Partilhar é um gesto de cuidado e amor”, declamou José Maria Tardim, ao conduzir um dos momentos místicos que compuseram o ato. Ao som do ganido da gralha azul, imagem símbolo da jornada, que desceu sobre a plenária ecoando nos ouvidos dos cerca de 4 mil camponeses ali presentes o desafio de compartilhar as sementes do saber e cultivá-las, com a conexão ancestral com o conhecimento e a energia dos povos que geraram a agricultura. “E a ti que amas entregarei meu bosque de ideias e coisas sãs” ‘‘Cuidado” foi uma palavra foi bastante utilizada em todo o ato. Porém, não se remetia ao cuidado que compõe a canção do medo, da incerteza. E sim do cuidado que constrói pela singeleza, que cultiva o amor e cativa os lutadores e lutadores com sutileza e esperança. Gesto esse demonstrado na emoção do seu Tobias, ao depor para os milhares de trabalhadores […]

Com presença de Ministro, ato político promove a agroecologia

Por Rafael Soriano  Nesta sexta-feira (24/07), diversas representações de trabalhadores, bancos públicos, parlamentares e o Ministro do Desenvolvimento Agrário, Patrus Ananias, se reuniram em Irati-PR, no ato político da 14ª Jornada de Agroecologia para firmar convênios de compra de alimentos e estímulo à industrialização da agricultura camponesa. Em mensagem lida pelo Ministro durante o evento, Dilma saúda a capacidade de mobilização e a experiência dos trabalhadores em torno da Agroecologia. Cooperativas de trabalhadores das diversas regiões do Paraná firmaram com o Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) e com o Banco do Brasil convênios nos programas Terra Forte e Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), que fazem parte da política do Governo Federal para a agricultura camponesa. Além das formalizações, os participantes defenderam a ampliação qualificada da política de agroecologia. Estiveram presentes no ato político a senadora Gleisi Hoffmann, autoridades locais, deputados federais, representação da Caixa, do Banco do Brasil e BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), representação da Secretaria Geral da Presidência, o vice-presidente do Incra, além do Ministro Patrus e membros da Via Campesina. Na plateia, estavam mais de 4 mil trabalhadores rurais, participantes da Jornada. O coordenador nacional do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), José Damasceno, falou em nome da Via Campesina celebrando os 14 anos de trabalho em torno da Jornada de Agroecologia que dão a clareza que os camponeses têm condições de construir essa alternativa, da produção agroecológica e sustentável. “Queremos que, para além da produção de mercadorias, chegue à mesa de todos os brasileiros a comida saudável”, salientou Damasceno. “Temos que dar o passo de uma Reforma Agrária mais ousada. Além da desconcentração, um projeto diferente, que distribua terra e fortaleça a permanência do homem e da mulher no campo. Criar a comunidade camponesa, com acesso a saúde, lazer, cultura, educação, […]

Comunidades tradicionais falam da necessidade de cuidado com a Mãe Terra

Por Franciele Petry Utilizadores dos benefícios da terra, das florestas e das águas, povos e comunidades tradicionais participam de debates durante a 14ª Jornada de Agroecologia. Mesmo que os instrumentos de trabalho para a produção agrícola tenham mudado um pouco durante os últimos anos, o respeito pela natureza por parte dos povos e comunidades tradicionais permanece o mesmo. “A gente tem no sangue a preservação da biodiversidade”, acredita o faxinalense Hamilton José. Seu companheiro de luta, o faxinalense Amantino Sebastião de Beija, concorda com a percepção. “Muito antes de sabermos o conceito de agroecologia já tínhamos práticas agroecológicas – não usávamos veneno, adubos, nem outros químicos”, explica. Milho, feijão, hortaliças e plantas medicinais são cultivadas na comunidade do faxinalense, localizada em Mandirititiba, região metropolitana de Curitiba. Em razão do relevo acidentado do local, em alguns pontos da comunidade agricultores plantam com a ajuda de instrumentos movidos a tração animal, semelhante a seus antepassados. Essa é a primeira vez que povos e comunidades tradicionais participam e contribuem na organização da Jornada de Agroecologia, evento anual que está em sua 14ª edição nesses dias 22 e 25 de julho, em Irati/PR. Integrante da Comunidade Quilombola Invernada Paiol de Telha, Divonzir Manoel dos Santos também indica em sua comunidade a existência da prática tradicional de produção de alimentos, que respeita a natureza. “A participação do negro na Jornada de Agroecologia é um marco”, indica. “Conseguimos mobilizar e integrar cada vez mais esse debate”. Romildo Lourenço Padilha, da Aldeia Indígena Ivaí, do município Manoel Ribas/PR, está participando pela primeira vez do evento. Ele confessa não participar de grandes debates em relação ao modo de produção agroecológico, mas indica que, de alguma forma, já mantém a prática. “Para nossa comunidade a relação com a natureza é muito importante. Cuidamos dela”, afirma. A relação com a […]

Seminários Temáticos debatem questões estratégicas para a Agroecologia

Por Natália Souza Educação do Campo, Agrobiodiversidade e Combate aos Agrotóxicos. Foram essas as três temáticas que movimentaram os debates dos seminários realizados entre os dias 23 e 24 de julho, durante a 14º Jornada de Agroecologia que acontece até amanhã (25), em Irati (PR). Os seminários são espaços de formação e aprofundamento político de questões centrais para a construção da Reforma Agrária Popular. Além do Seminário de Agrobiodiversidade, realizado no espaço da plenária do Centro de Tradições Willy Laars, a Educação do Campo e o Combate aos Agrotóxicos foram temas que ocuparam outros espaços da cidade, sendo realizados, respectivamente, no campus da Universidade Estadual do Centro Oeste (Unicentro), em Riozinho, e na Câmara dos Vereadores de Irati, no centro. Territórios Livres de Agrotóxicos e Transgênicos “O que estamos comendo? Não é apenas contra os venenos que estamos lutando. É contra um modelo de produção que nos impede de saber de onde vem e de que forma são produzidos os alimentos. Grande parte da população ainda desconhece os males dos agrotóxicos”. Esse foi o tom dos debates no seminário articulado pela Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e Pela Vida. Desde 2008, o Brasil ocupa a vergonhosa posição de maior consumidor de agrotóxicos do mundo. Neste contexto, apesar dos avanços com as políticas públicas para a agroecologia, não são poucas as derrotas acumuladas pelos movimentos sociais na garantia de mecanismos que reduzam efetivamente o uso dos venenos no país. Na troca de experiências, construídas para o enfrentamento da problemática no Paraná, representantes do Fórum Estadual de Combate aos Agrotóxicos e do Núcleo de Estudos em Saúde Coletiva da Universidade Federal de Paraná (UFPR), expuseram os avanços e perspectivas do comitê no estado. A incidência no legislativo municipal, a ampliação das estratégias de comunicação e diálogo com a sociedade, a qualificação dos […]

Com conselhos Frei Betto provoca a militância de esquerda

Por Maura Silva   Frei Betto esteve na tarde dessa sexta-feira (24), em Irati para a 14ª Jornada de Agroecologia. O militante e escritor falou por cerca de uma hora para as mais de quatro mil pessoas que estavam no local. Frei Betto usou como base um texto de sua autoria intitulado de 10 Conselhos para os Militantes de Esquerda. Abaixo seguem os conselhos dados por Frei Betto aos militantes da Jornada. 1- Mantenha viva a indignação: Criamos vícios de direita, perdemos o entusiasmo de ser criativos na luta. Mantenhamos viva a indignação: um militante não pode nunca perder seu senso crítico. Muitas vezes, por interesses pessoais, não se critica o outro. Será que estamos perdendo o poder de criticar de maneira construtiva? O poder não redime ninguém, o poder revela. Me lembro de uma vez ter ouvido um ditado que nunca mais esqueci: “Se queres saber quem é Juanito, dê-lhe um carguito”. Então eu pergunto: Será que estamos repetindo nos nossos Movimentos o sistema burguês, de lideranças burras, que fazem críticas pelas costas? A crítica é importante para rever os passos da caminhada. 2 – A cabeça pensa aonde os pés pisam: Não dá para ser de esquerda sem “sujar” os sapatos lá onde o povo vive, luta, sofre, alegra-se e celebra suas crenças e vitórias. Teoria sem prática é o jogo da direita. Os Nossos políticos se descolaram da base. Penso que se há um problema com os partidos de esquerda no Brasil, é ter eleitores e não ter militantes. Não se pode deixar de caminhar nas bases populares, mesmo que se vire presidente do país. É mantendo o vínculo com movimentos sociais que encontramos o gás que nos alimenta nessa luta. 3 – Não se envergonhe de acreditar no socialismo: Sempre me questionaram o seguinte: Você que […]